Barrancos
Vila, sede de Concelho do mesmo nome, do distrito de Beja - Baixo Alentejo - fica situada junto à linha de fronteira com Espanha (Andaluzia). Está irmanada com a vizinha vila espanhola de Encinasola, da qual dista cerca de nove quilómetros. Esta proximidade determinou no passado uma identificação das suas gentes, o que as levou a desenvolver laços de amizade sedimentados por trocas comerciais locais, das quais não estava ausente o sentimento de ajuda mútua. A interioridade e o isolamento moldaram uma "espécie quase legítima" e bastante generalizada de contrabando, único meio de subsistência para muitas famílias de ambos os lados da fronteira.
Estas condições sócio-geográficas (interioridade, isolamento, relevo contrastante com o restante Alentejo e situação sobre a linha de fronteira) determinaram desde a fundação da nacionalidade o surgimento de tradições ancestrais das quais são prova evidente, para citar apenas as que maior impacto têm na actualidade, a sua língua e a morte dos touros na arena, na festa anual, tradições estas que não estão despidas da influência espanhola, onde de ambos os lados da fronteira não se reconhecem descontinuidades nem na fauna, nem na flora.
No que diz respeito à lingua e onde uns vêm um factor de individualização autónoma (dialecto barranquenho) vêm outros apenas uma consequência natural da coexistência entre duas línguas latinas muito próximas (o português e o espanhol) como de resto com maior ou menor expressão se vai repetindo (principalmente para norte onde a proximidade de comunidades é maior) nalguns pontos da raia.
Como a língua, também a morte dos touros na arena, nas festas que todos os anos se realizam nos finais de Agosto, é um factor de união entre todos os Barranquenhos, motivo pelo qual na acesa polémica que estes acontecimentos têm gerado, se verificou o alinhamento incondicional de todos os barranquenhos pela defesa desta causa.
Barrancos é hoje nacionalmente conhecido, não pela importância sócio-económica que tem, mas sim pela polémica que todos os anos (mormente nestes três últimos) a televisão fez estalar com o calor de Agosto para servir de escape a batalhas de interesses que não se jogam aí e justificar hegemonias na tectónica do relevo político com modificações lentas mas continuadas que não são acessiveis ao vulgar cidadão.
Como começa por afirmar Miguel Rêgo, num artigo de opinião na revista "agenda Raiana":
-"De repente houve um tempo em que só havia Barrancos. ... "
De agricultura pobre, as sua gentes, até há alguns anos, viviam práticamente desta actividade, onde a importância incontestada é representada pela azeitona, bem como da criação de gado (bovinos e suínos). A especificidade do clima aliada à abundância de bolota permitem a confecção da carne de porco com técnicas diferentes das do resto do país o que lhe grangeou a classificação de região demarcada do presunto "pata negra" tão apreciado pelo seu sabor único.
Hoje, muitas das pessoas já se empregam nos serviços. O principal empregador é a autarquia local (Câmara) que só por si terá mais funcionários do que as Conservatórias, os Serviços de Finanças, Os Correios, as Escolas e duas delegações Bancárias em conjunto.
O povo é hospitaleiro e acolhedor. A ocupação dos tempos livres é feita muitas vezes em actividades culturais, de solidariedade e de lazer.
Os mais idosos repartem-se por duas sociedades recreativas principalmente ao fim da tarde, princípio da noite, onde convivem, lêem os jornais e vêm televisão.
A população activa, numa grande percentagem (sobretudo os homens) militam nos bombeiros voluntários, instituição de grande prestígio local.
Pólos de interesse local são também a banda de música, o clube de futebol (Barrancos Futebol Clube), o clube de pesca e o grupo coral (tão depressa há um como há dois e às vezes nenhum, porventura consequência da existência de muitos individuos com natural aptidão para o canto, incapazes de cooperar lado a lado). Ainda não há muito tempo em que durante as festas de Agosto, depois da animadora, com incursão pela madrugada, difícil era não encontrar, no virar de cada esquina, grupos de amigos entoando canções, muitas delas em espanhol. Não fossem as perturbações dos últimos anos introduzidas com a ajuda das televisões, ainda hoje este ritual teria a mesma expressão que tanto gosto dava ouvir, e colorido acrescentava às festas.
Ao fim da tarde e enquanto as mulheres preparam o jantar, não deixam de fazer a sua ronda pelas tabernas (cafés) para o copito acompanhado das habituais tapas, para fazer jus a mais um costume andaluz.
Em Barrancos, o tradicional copo de vinho é pequeno, com cerca de metade da capacidade dos copos de vinho normais e são sempre servidos acompanhados de um petisco para "fazer boca" (tapa).
A juventude organiza-se quase no seu todo em redor do grupo de jovens "Os Engurripitados" onde desenvolvem, nos tempos livres, as mais diversas actividades (convivio, teatro, arqueologia etc.).
Fora de Barrancos, existe o Núcleo dos Amigos do Concelho de Barrancos, NACB, cujos estatutos podem ser consultados aqui (basta clicar).